Conheci a minha próxima entrevistada por acaso, quando fazíamos as duas compras para os nossos filhos e confesso que simpatizei logo com ela.
A Cristina Soares Pereira é autora do blogue Mãe das 5 às 8 e Mãe da Maria Leonor com 6 anos e do João Pedro com 21 meses.
Mais uma vez após ter feito o convite para participar nesta nova rubrica de entrevistas, a minha convidada também não hesitou e prontificou-se a responder a todas as questões.
1. Foram duas gravidezes parecidas, ou completamente diferentes?
Foram ambas vividas com muita intensidade pois foram gravidezes
planeadas e desejadas. Se por um lado a primeira gravidez foi vivida com a emoção
de ser o nosso primeiro filho, por outro a segunda foi a emoção de ser um rapaz.
Claro que na primeira era tudo novo, vivemos um misto de emoção e receio e
dúvida.
É verdade que na segunda, e após os três primeiros meses, estávamos bem
mais tranquilos.
Enjoei imenso em ambas, desde o início quase quase até ao final. Ainda
recordo às vezes que deixei o meu marido pendurado enquanto jantávamos num restaurante ou a viagem Porto/Algarve com paragens frequentes e sacos
de plástico na mala. A grande vantagem: engordei muito pouco de ambas.
Apesar destes constrangimentos, em ambas é certo, adorei estar grávida!
2. Quando e como explicou à Maria Leonor que iria ter um irmão?
A Maria Leonor ficou a saber que estava grávida no dia da ecografia dos
3 meses e foi a primeira pessoa a sabe-lo. Aliás, foi ela a mensageira da
notícia aos avós.
Tínhamos tido uma experiência dolorosa anteriormente e não quisemos
dar-lhe falsas expectativas. Apesar de acharmos que uma gravidez se deve viver
desde o primeiro momento com todos os que amamos, na gravidez do João Pedro
fomos mais cautelosos.
Na altura ela tinha quase 4 anos. Tivemos uma conversa aberta com ela.
Explicamos que a mamã tinha na barriga um bebé e que iria ser o melhor
amigo dela. Na altura quisemos que percebesse que aquele bebé seria uma bênção e não uma “ameaça”. Fiz um coração em cartolina vermelha, mostrei-lhe.
Expliquei-lhe que aquele era o meu coração. Peguei numa tesoura e
cortei o coração ao meio. Dei-lhe uma das metades para a mão. Peguei na outra
metade e cortei-a em duas partes iguais. A seguir expliquei-lhe que a metade
que ela tinha na mão era a parte que lhe era destinada do coração da mãe e que as
outras duas partes seriam para distribuir pelo mano e pelo pai. Claro que o
objectivo foi que percebesse que a parte maior continuaria a ser sua. Hoje sabe que
amo os três com a mesma intensidade e ela é a própria a exigir que assim seja.
3. Ao longo dos 9 meses foi preparando-a para a vinda de mais um membro
na família? Como?
Sim. Envolvendo-a em quase tudo. Nas compras, na preparação do quarto – o dela que teria que ser partilhado -, nas idas às ecografias em 3D e,
claro, na escolha do nome que deixamos que o fizesse. Felizmente tem bom gosto
(risos).
4. Como foi o dia do nascimento? Como reagiu a Maria Leonor?
Foi um dia muito intenso. Tínhamos vivido muito recentemente uma grande perda e este bebé era a esperança de toda a família. Vê-lo nascer – tão
pequeno, tão terno, tão delicado – foi um momento indescritível. O parto da
Maria Leonor não foi um parto propriamente fácil e vivi-o mais dolorosamente, já o
parto do João Pedro foi muito fácil e vivido por isso mais intensamente.
Eu fiquei óptima logo após as duas horas e por isso a Maria Leonor
quando me viu ficou mais tranquila. Recebeu o irmão com muito entusiasmo e
curiosidade.
Ficou felicíssima com o presente que ele lhe tinha trazido (a inocência
é linda!).
Visitava-me todos os dias no hospital, queria-o só para ela e era
extremamente cuidadosa. Estava feliz!
O único problema era às 8 da noite quando tinha que sair do hospital.
Não queria deixar a mãe e o mano, queria-os em casa com ela e o pai. Era a filha a
chorar pelo corredor e a mãe a sufocar o choro no quarto.
5. Deixava-a participar em alguma tarefa relacionada com o irmão?
Em imensas. Nas mudas de fralda, nos banhos (desde os primeiros banhos
em casa). Ainda hoje o João Pedro adora que seja a irmã a colocar-lhe o
creme no corpo pois desde muito pequeno se habitou àquelas mãos minúsculas a
massajá-lo. Ela escolhia a roupa para o irmão vestir, o melhor local para a
guardar, etc… tentamos envolvê-la sempre o mais possível em tudo.
6. Em que altura arranjava tempo para dedicar em exclusivo à Maria Leonor?
Confesso que era a parte mais difícil… ainda hoje o é, provavelmente
hoje até mais. O JP ainda é um bebé e por isso é menos independente, mas sei que
ela precisa de mim, da minha atenção tenha 1, 6 ou 20 anos… uma mãe é para sempre! Notei que em determinada altura a ML se ligou mais ao pai e
confesso que me ressenti mas foi uma fase, agora tudo está normal.
7. Momento mais complicado, mais difícil de gerir (durante gravidez, ou
depois do nascimento).
Precisamente o dedicar atenção à ML quer durante a gravidez, porque nem sempre me sentia muito bem disposta, quer após a gravidez, porque era
mais um que precisava da minha atenção. Tenho três amores muito dependentes
desta mãe (risos), se por um lado é muito bom, por outro nem sempre consigo
gerir tudo da melhor forma. Confesso hoje sou menos perfeccionista que há uns
anos atrás… um dia de cada vez!
8. Como é hoje em dia o relacionamento entre os dois irmãos?
Excelente! São irmãos e está tudo dito, para o bom e para o menos bom.
Adoram-se e detestam-se. Têm momentos em que se vê que têm o maior e melhor dos sentimentos um pelo outro, em que se abraçam, se beijam, se protegem e são cúmplices; e têm momentos em que se beliscam, se acusam,
não se suportam. Costumo dizer que a ML é o sol do JP pois mesmo num dia
cinzento quando ela chega o dia para ele é de sol radiante; o JP é para a ML o
bebé chorão e mimalho que a admira, a adora e a imita. É muito bom vê-los crescer
juntos!
9. E o amor pelos filhos reparte-se ou multiplica-se?
Multiplica-se, confirmo! Na altura em que fiquei grávida do JP a minha
grande dúvida era precisamente essa: “Como serei capaz de amar outra criança
como amo a minha filha?”. Confesso que me angustiava este pensamento.
Sentia-me por um lado a traí-la por ser capaz de pensar amar alguém de igual
forma e por outro sentia que este pensamento era injusto para com o bebé que
crescia dentro de mim e que não pediu para ser concebido.
Hoje digo-vos com total certeza. Amo-os aos dois e ponto. Aliás quando
vi o João pela primeira vez e o peguei ao colo percebi que o amor não se esgota
num filho, nem em dois, nem em três… um filho é sempre um filho e mãe é sempre
mãe!
10. Alguma dica para Mães de segunda viagem, não só relativamente à gravidez, como também à preparação do primeiro filho?
Acima de tudo "descompliquem"! Não pensem demasiado, sintam! Quando pensamos demasiado não agimos naturalmente e não deixamos o nosso instinto de mãe falar mais alto. Pensem sempre, que façam o que fizerem, o amor de um filho por nós não se esgota bem como o contrário, e se hoje não conseguimos ser a mãe, a mulher, a filha, a profissional que gostaríamos, vamos tentar fazê-lo amanhã, ou depois, ou depois. Ah mais uma coisa… chorar faz bem, por isso se tiverem que o fazer para aliviar façam-nos sem tabus e vergonhas! Não somos super mulheres!
Não vale a pena quereremos fazer igual. Se com o nascimento de um filho ajustes têm que ser feitos à vida do casal, não vamos pensar que com a chegada de um segundo filho tudo vai ficar igual na vida familiar. A chegada de um bebé obriga obviamente a ajustes, mas não significa que se perca com isso, pelo contrário. Se envolvermos a criança mais velha desde o início em tudo (ou quase) ele não vai ver o tempo que passamos juntos com o novo membro da família como ameaça. Brincar às casinhas também pode ser com um bebé de verdade ;)
Obrigada Cristina!!!
Obrigada eu Mariana. Adorei recordar coisas que já nem lembrava como foram especiais. Beijinho
ResponderEliminarBeijinho querida...
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