terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Entrevista | We're family # 3

Conheci a minha próxima entrevistada por acaso, quando fazíamos as duas compras para os nossos filhos e confesso que simpatizei logo com ela.
A Cristina Soares Pereira é autora do blogue Mãe das 5 às 8 e Mãe da Maria Leonor com 6 anos e do João Pedro com 21 meses.
Mais uma vez após ter feito o convite para participar nesta nova rubrica de entrevistas, a minha convidada também não hesitou e prontificou-se a responder a todas as questões.


1. Foram duas gravidezes parecidas, ou completamente diferentes?

Foram ambas vividas com muita intensidade pois foram gravidezes planeadas e desejadas. Se por um lado a primeira gravidez foi vivida com a emoção de ser o nosso primeiro filho, por outro a segunda foi a emoção de ser um rapaz. Claro que na primeira era tudo novo, vivemos um misto de emoção e receio e dúvida.
É verdade que na segunda, e após os três primeiros meses, estávamos bem mais tranquilos.
Enjoei imenso em ambas, desde o início quase quase até ao final. Ainda recordo às vezes que deixei o meu marido pendurado enquanto jantávamos num restaurante ou a viagem Porto/Algarve com paragens frequentes e sacos de plástico na mala. A grande vantagem: engordei muito pouco de ambas.
Apesar destes constrangimentos, em ambas é certo, adorei estar grávida!

2. Quando e como explicou à Maria Leonor que iria ter um irmão?

A Maria Leonor ficou a saber que estava grávida no dia da ecografia dos 3 meses e foi a primeira pessoa a sabe-lo. Aliás, foi ela a mensageira da notícia aos avós.
Tínhamos tido uma experiência dolorosa anteriormente e não quisemos dar-lhe falsas expectativas. Apesar de acharmos que uma gravidez se deve viver desde o primeiro momento com todos os que amamos, na gravidez do João Pedro fomos mais cautelosos.
Na altura ela tinha quase 4 anos. Tivemos uma conversa aberta com ela.
Explicamos que a mamã tinha na barriga um bebé e que iria ser o melhor amigo dela. Na altura quisemos que percebesse que aquele bebé seria uma bênção e não uma “ameaça”. Fiz um coração em cartolina vermelha, mostrei-lhe.
Expliquei-lhe que aquele era o meu coração. Peguei numa tesoura e cortei o coração ao meio. Dei-lhe uma das metades para a mão. Peguei na outra metade e cortei-a em duas partes iguais. A seguir expliquei-lhe que a metade que ela tinha na mão era a parte que lhe era destinada do coração da mãe e que as outras duas partes seriam para distribuir pelo mano e pelo pai. Claro que o objectivo foi que percebesse que a parte maior continuaria a ser sua. Hoje sabe que amo os três com a mesma intensidade e ela é a própria a exigir que assim seja.

3. Ao longo dos 9 meses foi preparando-a para a vinda de mais um membro na família? Como?

Sim. Envolvendo-a em quase tudo. Nas compras, na preparação do quarto – o dela que teria que ser partilhado -, nas idas às ecografias em 3D e, claro, na escolha do nome que deixamos que o fizesse. Felizmente tem bom gosto (risos).

4. Como foi o dia do nascimento? Como reagiu a Maria Leonor?

Foi um dia muito intenso. Tínhamos vivido muito recentemente uma grande perda e este bebé era a esperança de toda a família. Vê-lo nascer – tão pequeno, tão terno, tão delicado – foi um momento indescritível. O parto da Maria Leonor não foi um parto propriamente fácil e vivi-o mais dolorosamente, já o parto do João Pedro foi muito fácil e vivido por isso mais intensamente.
Eu fiquei óptima logo após as duas horas e por isso a Maria Leonor quando me viu ficou mais tranquila. Recebeu o irmão com muito entusiasmo e curiosidade.
Ficou felicíssima com o presente que ele lhe tinha trazido (a inocência é linda!).
Visitava-me todos os dias no hospital, queria-o só para ela e era extremamente cuidadosa. Estava feliz!
O único problema era às 8 da noite quando tinha que sair do hospital. Não queria deixar a mãe e o mano, queria-os em casa com ela e o pai. Era a filha a chorar pelo corredor e a mãe a sufocar o choro no quarto.

5. Deixava-a participar em alguma tarefa relacionada com o irmão?

Em imensas. Nas mudas de fralda, nos banhos (desde os primeiros banhos em casa). Ainda hoje o João Pedro adora que seja a irmã a colocar-lhe o creme no corpo pois desde muito pequeno se habitou àquelas mãos minúsculas a massajá-lo. Ela escolhia a roupa para o irmão vestir, o melhor local para a guardar, etc… tentamos envolvê-la sempre o mais possível em tudo.

6. Em que altura arranjava tempo para dedicar em exclusivo à Maria Leonor?

Confesso que era a parte mais difícil… ainda hoje o é, provavelmente hoje até mais. O JP ainda é um bebé e por isso é menos independente, mas sei que ela precisa de mim, da minha atenção tenha 1, 6 ou 20 anos… uma mãe é para sempre! Notei que em determinada altura a ML se ligou mais ao pai e confesso que me ressenti mas foi uma fase, agora tudo está normal.

7. Momento mais complicado, mais difícil de gerir (durante gravidez, ou depois do nascimento).

Precisamente o dedicar atenção à ML quer durante a gravidez, porque nem sempre me sentia muito bem disposta, quer após a gravidez, porque era mais um que precisava da minha atenção. Tenho três amores muito dependentes desta mãe (risos), se por um lado é muito bom, por outro nem sempre consigo gerir tudo da melhor forma. Confesso hoje sou menos perfeccionista que há uns anos atrás… um dia de cada vez!

8. Como é hoje em dia o relacionamento entre os dois irmãos?

Excelente! São irmãos e está tudo dito, para o bom e para o menos bom.
Adoram-se e detestam-se. Têm momentos em que se vê que têm o maior e melhor dos sentimentos um pelo outro, em que se abraçam, se beijam, se protegem e são cúmplices; e têm momentos em que se beliscam, se acusam, não se suportam. Costumo dizer que a ML é o sol do JP pois mesmo num dia cinzento quando ela chega o dia para ele é de sol radiante; o JP é para a ML o bebé chorão e mimalho que a admira, a adora e a imita. É muito bom vê-los crescer juntos!

9. E o amor pelos filhos reparte-se ou multiplica-se?

Multiplica-se, confirmo! Na altura em que fiquei grávida do JP a minha grande dúvida era precisamente essa: “Como serei capaz de amar outra criança como amo a minha filha?”. Confesso que me angustiava este pensamento. Sentia-me por um lado a traí-la por ser capaz de pensar amar alguém de igual forma e por outro sentia que este pensamento era injusto para com o bebé que crescia dentro de mim e que não pediu para ser concebido.
Hoje digo-vos com total certeza. Amo-os aos dois e ponto. Aliás quando vi o João pela primeira vez e o peguei ao colo percebi que o amor não se esgota num filho, nem em dois, nem em três… um filho é sempre um filho e mãe é sempre mãe! 

10. Alguma dica para Mães de segunda viagem, não só relativamente à gravidez, como também à preparação do primeiro filho?

Acima de tudo "descompliquem"! Não pensem demasiado, sintam! Quando pensamos demasiado não agimos naturalmente e não deixamos o nosso instinto de mãe falar mais alto. Pensem sempre, que façam o que fizerem, o amor de um filho por nós não se esgota bem como o contrário, e se hoje não conseguimos ser a mãe, a mulher, a filha, a profissional que gostaríamos, vamos tentar fazê-lo amanhã, ou depois, ou depois. Ah mais uma coisa… chorar faz bem, por isso se tiverem que o fazer para aliviar façam-nos sem tabus e vergonhas! Não somos super mulheres!
Não vale a pena quereremos fazer igual. Se com o nascimento de um filho ajustes têm que ser feitos à vida do casal, não vamos pensar que com a chegada de um segundo filho tudo vai ficar igual na vida familiar. A chegada de um bebé obriga obviamente a ajustes, mas não significa que se perca com isso, pelo contrário. Se envolvermos a criança mais velha desde o início em tudo (ou quase) ele não vai ver o tempo que passamos juntos com o novo membro da família como ameaça. Brincar às casinhas também pode ser com um bebé de verdade ;)

Obrigada Cristina!!!


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