Tudo o que me tinha esquecido sobre ser mãe: http://www.paisefilhos.pt/index.php/opiniao/isabel-stilwell/5360-tudo-o-que-me-tinha-esquecido-sobre-ser-mae
Escrito por Isabel Stilwell
Dário de uma avó galinha - fevereiro 2011 Ficaram
sozinhas comigo dois dias e meio. E mais importante ainda, duas noites.
Sozinhas comigo é uma força de expressão porque o batalhão de gente que tinha
para me ajudar era grande, mas sozinhas comigo no sentido de que a Ana mas
«entregou» e eu me senti a responsável máxima por tudo o que lhes dizia
respeito.
E aquelas 48 horas acordaram dezenas de memórias
recalcadas, que registo neste diário de avó galinha. Passo a enumerar:
Tinha-me esquecido da quantidade de tralha que um bebé
tráz consigo, e do esforço de organização que uma pobre mãe precisa para ter
direito a dois dias sem os filhos. Biberons, esterilizador, latas de leite,
pacotes de fraldas, fraldas de pano, garrafões de água, roupa, claro, e agora
papas e sopas, e babetes claro, para não falar de «ovos», espreguiçadeiras e
carrinho caso seja preciso levá-las à rua... Não admira que, nesta fase, aquilo
que uma mãe mais ambiciona é que sejam uns elfos a mudarem-se lá para casa e a
tomar conta de tudo, não admira que receba com raiva o comentário de amigas
solteiras, ou de um marido inconsciente, do estilo: «Agora nunca queres ir a
lado nenhum!» Tinha-me esquecido da exigência permanente que é ter dois bebés a
cargo. Entre um e outro, não se faz absolutamente mais nada.
Tinha-me esquecido de como exaspera ver interrompidos os
momentos em que estamos entretidos com qualquer coisa que nos dá prazer, nem
que seja ver uma série na televisão, tomar um banho de imersão ou simplesmente
redigir um mail com mais de vinte linhas.
Tinha-me esquecido (quer dizer esquecer não, afinal foram
três filhos e 15 anos sem dormir, e essas coisas não se esquecem), do que são
as noites intercortadas por chuchas que caem (ainda ninguém inventou uma forma
de as fixar à boca? Velcro?!), biberons que é preciso dar, fraldas que temos de
mudar. E de como se instala rapidamente o trauma do medo de não dormir: basta
um gemido, e os olhos abrem-se com um «Oh não, vai acordar, é melhor ir lá
já!», para depois voltar para a cama a contar pelos dedos as horas que ainda
faltam até o Sol nascer de novo.
Tinha-me esquecido de como o encadeado de tarefas nos
deixa zombies, e em menos de nada passamos a seres atarantados, capazes de
arrumar as chaves do carro no frigorífico, e os casaquinhos de malha na
dispensa. E de como comer uma refeição do princípio ao fim se torna uma
miragem...
Tinha-me esquecido de como os momentos em que se consegue
sair à rua sozinho, nem que seja para ir entregar um impresso a uma repartição
de Finanças, têm o sabor de uma clareira de liberdade que permite recarregar as
pilhas para o regresso à base.
Tinha-me esquecido da aflição que aperta o coração quando
não sabemos porque choram, nada os sossega, e insidiosamente se instala o medo
de que seja alguma coisa grave, até que entre soluços e suspiros adormecem como
anjos nos nossos braços...
Tinha-me esquecido de tudo isto, porque os bebés têm uma
magia poderosa, que apaga rapidamente os maus momentos, e deixa gravados apenas
aqueles que nos enchem a alma, porque os bebés nascem com a capacidade de nos
escravizar com os seus sorrisos e gargalhadas, com o olhar que nos faz sentir
únicos no mundo.
Por isso, antes que me volte a esquecer de tudo isto,
queria tirar o meu chapéu aos pais. São heróis, heróis verdadeiros, porque nem
sequer consta que o Super-Homem passasse noites sem dormir....
Absolutamente fantástico! Do início ao fim... <3
ResponderEliminarObrigada pela partilha,querida!
Um beijinho
<3 Bjos
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